Sibéria: a vida entre os -10º e os -55ºC (numa
nuvem tóxica)
Elena
Chernyshova fotografou Norilsk, na Sibéria, e contou ao P3 a sua experiência. O
projecto "Days of Night, Nights of Day" retrata a vida dos 175 mil
habitantes da cidade a que a fotógrafa se refere como "o inferno na
terra"
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ELENA CHERNYSHOVA |
Texto de Ana Marques Maia • 05/01/2014 - 12:05
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Elena Chernyshova fotografou a vida em Norilsk, na Sibéria, na Rússia, a
cidade mais a norte no círculo polar ártico. O projecto "Days of Night, Nigths of Day" é o retrato dos
hábitos da população e das paisagens geladas de uma região de características
singulares.
Elena Chernyshova esteve em Norilsk três vezes: uma para conhecer
a cidade e fazer contactos, as outras para experienciar a noite e o dia
polares. A sua paixão pelo Ártico (partilhou com o P3 em entrevista via
"email") surgiu porque a sua mãe viveu acima do círculo polar durante
dez anos e consigo partilhou, durante a infância, histórias desses tempos.
Norilsk atraíu a fotógrafa também pela sua originalidade. "Quando ouvi
falar de Norilsk, sobre a sua história e sobre as condições ecológicas,
climatéricas e de isolamento que os seus habitantes enfrentam, não consegui
ficar indiferente. Apaixonei-me pela cidade e surgiu uma enorme curiosidade de
saber como as pessoas vivem num local assim, como se adaptam àquele
ambiente."
A sua adaptação ao frio nem sempre foi fácil. "A minha câmara
funcionou bem mesmo com 45 graus negativos. [...] Às vezes entusiasmava-me ao
fotografar algo e esquecia-me do frio. Algumas pessoas alertaram-me para o
facto de a minha cara estar a congelar; nesse caso tinha imediatamente de
aquecer-me para evitar feridas."
Ao contrário do expectável, as pessoas que Elena encontrou em
Norilsk não eram melancólicas e fechadas. "Encontrei pessoas abertas,
amistosas, criativas e com um excelente sentido de humor. As pessoas de Norilsk
gostam de dizer que a maior riqueza da região não são os depósitos [de metais],
mas sim as suas gentes. O que mais me surpreendeu foi a atitude dos habitantes:
podem amaldiçoar e criticar a cidade, sonhar em abandoná-la e finalmente
fazê-lo, mas adoram-na. É um paradoxo como uma cidade que parece o inferno na
terra pode ser tão amada. Há um incrível e particular apego destas pessoas pelo
local. Quando o abandonam para viver noutros lugares, as pessoas relembram
Norislk com saudade."
Norilsk, Sibéria, Rússia
Norilsk é a cidade número sete no ranking das cidades mais
poluídas do mundo e a mais poluída da Rússia. A forte indústria de exploração
de cobre cobalto e níquel emprega 60% da população e gera 2 milhões de
toneladas de emissões de dióxido de enxofre anualmente (correspondente ao que,
por exemplo, França emite num ano) e 4 milhões de toneladas de metais pesados
que, num raio de 50km, são perigosos para a saúde. Os níveis de poluição são de
tal modo elevados que quase 100 mil hectares da frágil vegetação que envolvia a
cidade desapareceu. Como consequência directa destes números, a taxa de
incidência de cancro na população é o dobro da média na Rússia e a esperança
média de vida dez anos inferior.
As temperaturas, em Norilsk, variam entre os -10 e os -55 graus
celsius todo o ano, acompanhadas de ventos fortes e frequentes céus cinzentos.
Os períodos de frio extremo estendem-se cerca de 280 dias por ano e mais de 180
são marcados por violentas tempestades de neve que decorrem nos dois meses em
que a cidade não vê a luz do sol — a denominada "noite polar". As
ligações à cidade fazem-se apenas por via aérea ou marítima (a última
disponível apenas entre Junho e Setembro), sendo totalmente inexistente
qualquer ligação por via terrestre. Apesar de todas as características que
tornam este local inóspito à vida humana, nele habitam 175 mil pessoas; Norilsk
torna-se por isso a segunda cidade mais populosa acima do círculo polar ártico.
Norilsk deve a sua existência ao trabalho forçado dos prisioneiros
do Gulag, vítimas do regime
comunista de Estaline (ex-URSS). Estes prisioneiros, cerca de 500 mil,
construíram e laboraram durante 20 anos nas minas e fábricas metalúrgicas da
região. Muitos desses sucumbiram às duras condições de vida impostas pelo regime.
A fotógrafa procurava financiamento para a realização deste
projecto desde 2009. Foi através da atribuição de uma bolsa pela Lagardere Foundation que finalmente pôde realizar o
"Days of Night, Nights of Day", lançado em 2013.
Texto de Ana Marques Maia escrito em 05/01/2014 - 12:05
A notícia
escolhida demonstra as graves consequências causadas pelo poluição no sistema
imunitário humano. Norislk é a 7ª cidade mais poluída do mundo, a mais poluída
da Rússia, os seus habitantes têm uma esperança média de vida 10 anos inferior
e uma taxa de cancro duas vezes superior em comparação ao resto dos habitantes
da Rússia, Num mundo cada vez mais poluído é importante conhecer quais os
efeitos para a saúde desta poluição daí a escolha da noticia. Ao longo desta categoria (Poluição e sistema imunitário) pode observar toda uma análise a esta noticia.