Nas
suas experiências Morgan utilizou como material biológico Drosophila melanogaster, mais conhecida como mosca da fruta ou
mosca do vinagre. A seleção desta espécie como material biológico não foi feita
aleatoriamente, já que Drosophila
melanogaster é uma espécie que possui inúmeras características favoráveis à
sua utilização em trabalhos experimentais ligados à genética :
- Dimensões reduzidas (entre 3mm e 4mm);
- Fácil conservação (devido às suas reduzidas dimensões), alimentação e manuseamento;
- Ciclo de vida curto (aproximadamente 12 dias), permitindo o nascimento de uma nova geração a cada dez dias, aproximadamente;
- Obtenção de um elevado número de descendentes (que certifica as proporções fenotípica e genotípicas obtidas após os cruzamentos entre os vários indivíduos da espécie) ;
- Dimorfismo sexual acentuado, permitindo uma fácil distinção entre os sexos (através de estruturas como o pente sexual, estrutura pilosa que os machos possuem no par de patas anteriores e que as fêmeas não possuem), ou mesmo através do tamanho do corpo, visto que os machos são significativamente mais pequenos que as fêmeas) ;
- Grande variedade de caracteres de fácil observação e distinção, como o tamanho das asas, a cor do corpo e dos olhos, que dão assim origem a uma grande variedade de fenótipos;
- Cariótipo com apenas 4 pares de cromossomas ( 3 pares de autossomas e 1 par de cromossomas sexuais).
Apesar
de Drosophila melanogaster possuir
várias características vantajosas à sua utilização e ser uma espécie
relativamente fácil de manusear durante trabalhos experimentais, Thomas Morgan
teve que recorrer a várias técnicas e métodos específicos para que pudesse
realizar as experiências e para que os resultados destas fossem fidedignos.
Assim, Morgan começou por criar um
meio de cultura para garantir a alimentação das moscas ao longo de toda a
experiência, sendo que este meio de cultura foi posteriormente introduzido nos
tubos onde Morgan foi colocando as moscas da fruta ou Drosophila melanogaster.
Para
que os cruzamentos entre os vários indivíduos pudessem ocorrer tinha que haver,
primeiramente, uma identificação dos machos e das fêmeas e dos fenótipos dos
vários indivíduos. Devido às suas reduzidas dimensões, estas observações só
podiam ser feitas com a utilização de uma lupa, o que implicava a imobilidade
de Drosophila melanogaster. Desta
forma, para manter imóveis as moscas, Morgan utilizou um processo no qual
anestesiava os indivíduos com vapores de éter sulfúrico : embebia um pedaço de
algodão em éter sulfúrico (já que o contacto das moscas com esta substância é
fatal) e colocava-o num frasco. Removia os insetos dos tubos dando pequenas
pancadas para que estes se afastassem da rolha, invertendo posteriormente os
frascos, e colocava-os num funil cuja extremidade fina, vedada com gaze, tapava
o frasco com o algodão embebido em éter sulfúrico. Os insetos ficavam assim
retidos no funil, sujeitos aos vapores de éter, que os anestesiavam em 30 a 40
segundos. Após estarem anestesiados, os insetos foram colocados sobre um
azulejo ou um pedaço de papel para que pudessem ser transportados e manuseados,
sendo esta manipulação feita com um pincel de guache para que estes não
sofressem danos físicos.
Quando todas as observações foram
concluídas, os insetos foram reintroduzidos nas paredes dos tubos de cultura
deitados, para que estes não ficassem colados aos meios de cultura.
Com todas as observações
finalizadas, Morgan pôde então realizar os cruzamentos entre os indivíduos. No
entanto, teve que ter vários cuidados para que os resultados não fossem
comprometidos:
- Os indivíduos de Drosophila melanogaster cruzados tinham que ser provenientes de linhas puras, ou seja, de uma linhagem onde os descendentes apresentavam sempre a mesma característica para um dado caráter, uma vez que só assim Morgan podia ter a certeza do genótipo dos indivíduos cruzados;
- As fêmeas utilizadas como progenitoras nos vários cruzamentos tinham que estar virgens, ou seja, não podiam ter atingido a maturidade sexual, já que se tal não acontecesse Morgan não poderia ter a certeza de que cruzava essas fêmeas com insetos do sexo masculino com determinadas características, uma vez que se corria o risco de estas já terem sido fecundadas por outros machos;
- Tinha que haver isolamento as fêmeas que descendiam de cruzamentos entre indivíduos de um determinado tubo de cultura de modo a que o risco referenciado anteriormente fosse diminuído. Para isso, observaram-se o sexo dos indivíduos que eclodiram da pupa, 6 horas após este acontecimento, e retiram-se as fêmeas para um novo tubo de cultura, garantindo que estão virgens já que estas só atingem a maturidade sexual 12 horas após a sua eclosão da pupa. Só depois poderiam ser cruzadas com machos previamente selecionados de acordo com as suas características fenotípicas.
Mais informação sobre a Drosophila Melanogaster aqui.
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